Mariana Brunelli

Mariana Brunelli

(Arquiteta)

“Gosto se discute, e muito!”, é assim que a arquiteta Mariana Brunelli define sua paixão pela profissão e a dedicação, em sua vida acadêmica, pela disciplina Projeto Arquitetônico: “Foi quando compreendi que, para um espaço ser concebido, é preciso estudo, conceito, referência e uma seriedade tamanha, que ultrapassa as questões puramente estéticas e vai buscar a funcionalidade como principal ferramenta de trabalho de um arquiteto”.

Há 11 anos na profissão, Mariana conta que se formou na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Braz Cubas, em Mogi das Cruzes. E foi na disciplina preferida que encontrou motivação, recebendo o convite do mestre Álvaro Dariza para estagiar em seu escritório (na época, na Riviera de São Lourenço, em sociedade com sua esposa Mariângela Carvalho).

“Durante os cinco anos de faculdade, trabalhei como estagiária em alguns escritórios tanto em São Paulo como em Mogi das Cruzes e, depois de formada, trabalhei como arquiteta alguns anos nos escritórios Ciro Pirondi Arquitetos Associados e Marcelo Suzuki Arquitetura, ambos em São Paulo”, conta.

Depois deste período, no início de 2001, decidiu atuar em meus próprios projetos de arquitetura, com seus próprios clientes. Simultaneamente a isso, teve duas importantes experiências acadêmicas. A primeira delas foi integrando a equipe de Pesquisa e Extensão da FAU-UBC (para trabalhar na elaboração dos Planos Diretores dos Municípios de Bonito, no MS, e de Biritiba-Mirim, em SP) e, a segunda, foi lecionando nas disciplinas de Projeto Arquitetônico e Desenho na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo UniMódulo, em Caraguatatuba.

Acompanhe uma entrevista com a arquiteta, que revela seus planos, inspirações e marcos em sua carreira.

Colégio de Arquitetos – Qual sua maior inspiração? Quem te influenciou?

Mariana Brunelli – Não tenho uma única fonte de inspiração, propriamente dita. Costumo pesquisar alguns arquitetos antes de iniciar um projeto. Vejo muito as obras de Renzo Piano e Carlos Ferrater, por exemplo. Mas, independente do tipo de projeto, tenho um conjunto de referências que sempre me influenciam, que são as obras de Lina Bo Bardi, Lucio Costa e Oscar Niemeyer.

CDA – O que é ser arquiteta?

MB – É ter uma profissão que eu amo e por isso a faço com prazer e respeito. É ter um trabalho tão digno e importante quanto qualquer outro e saber, principalmente, que a arquitetura, assim como qualquer outra profissão, não muda o mundo, não resolve problemas. O que faz isso é o caráter de cada um e não a profissão.
CDA – Qual o seu maior projeto, o mais marcante?

MB – De um modo geral, procuro aprender um pouco mais com cada projeto que faço e, vendo por este prisma, todos acabam sendo importantes. Mas o último trabalho, ou o que está sendo feito no momento, com certeza é o mais lembrado. Portanto, o desafio da vez é um projeto que estou fazendo em parceria com o arquiteto e designer gráfico Meng Tsai.  Trata-se de um edifício galeria, voltado ao comércio e serviço, em Mogi das Cruzes. Como sempre, as questões principais giram em torno de proporcionar o máximo de iluminação e ventilação naturais, qualidade ambiental, funcionalidade e rentabilidade ao cliente. Enfim, ainda que esteja em fase de Anteprojeto, estamos felizes com o resultado alcançado.

CDA – Quando descobriu este dom? Por que quis ser arquiteta?

MB – Hoje percebo que a arquitetura praticamente fluiu em minha vida de uma maneira muito prática. Lembro-me de estar sempre desenhando – desde meus dois anos, quando fiz meu primeiro desenho que não fosse um “rabisco” (um peixe, se não me engano). Durante toda a infância, minha brincadeira preferida era inventar casas de dominó e blocos de madeira, onde moravam os bonecos do “Playmobil”. Tudo isso foi realçado pelo fato de meu pai ser construtor-empreiteiro, e esta profissão vir passando de pai para filho desde que meu bisavô ainda vivia na Itália. Enfim, “ler” plantas de casas e brincar nos alicerces de obras sempre fez parte de mim.

Escolher ser arquiteta foi uma consequência natural daquilo que eu já gostava de viver.
CDA – Você já trabalhou em outra área?

MB – Não.

CDA – Fale um pouco de sua empresa.

MB – Meu escritório se divide entre projetos de arquitetura e design de interiores. Como processo de trabalho, realizo desde o Estudo Preliminar ao Projeto Executivo, acompanhando o cliente na escolha dos materiais de acabamento, mobiliário e iluminação, por exemplo. Antes da execução, procuro realizar reuniões com as demais equipes envolvidas na obra a fim de esclarecer ao máximo o projeto e compatibilizá-lo com os projetos complementares de engenharia (cálculo estrutural, rede elétrica e hidráulica, por exemplo). De acordo com o serviço solicitado pelo cliente, também realizo visitas de supervisão durante a obra, visando assegurar sua fidelidade ao projeto arquitetônico. Quando possível, costumo fazer alguns trabalhos em parceria com outros arquitetos. Acredito que a troca de informações e a discussão sobre a arquitetura enriquecem o cotidiano do escritório. Minha parceria mais antiga, e frequente, é com a arquiteta Priscila Silva, com quem tive a oportunidade de criar trabalhos muito interessantes, principalmente na área de design de interiores.

CDA – Qual a sua filosofia profissional?

MB – Encaro cada trabalho com o mesmo grau de respeito e envolvimento. Seja o projeto de uma peça de mobiliário, da reforma de um banheiro, ou de um edifício inteiro. Procuro compreender o modo de viver do cliente e proporcionar a ele ambientes que auxiliem em sua qualidade de vida.
CDA – Qual o melhor conselho para um futuro arquiteto?

MB – Que aproveite ao máximo o período de vida acadêmica: busque conhecimento, discuta, ouça, tenha ídolos, referências, treine seu olhar. Apaixone-se pela arquitetura! Mas jamais se esqueça que o personagem principal é o homem que vai usufruí-la e não a arquitetura por si só.

CDA – O que planeja para o futuro?

MB – Continuar tendo a oportunidade de trabalhar com o que escolhi.

CDA – Em que você pauta seus projetos?

MB – Meus projetos são pautados em uma arquitetura contemporânea. Quando digo “contemporânea” não me refiro aos modismos que sempre vêm e vão. Estou me referindo a uma arquitetura fiel às características e necessidades do homem atual, do lugar e do tempo em que ele vive.

CDA – Hoje em dia, qual o principal diferencial de um arquiteto, levando em consideração a preocupação com o meio ambiente, a sustentabilidade e a ocupação responsável?

MB – Parte do que se discute atualmente dentro dos preceitos de uma arquitetura ecologicamente correta, já foi exaustivamente discutido à pelo menos 70 anos atrás, com o advento do Movimento Moderno na arquitetura – em que eram propostos os primeiros edifícios elevados do solo, sobre imensos jardins, facilitando a drenagem pluvial, com lajes de coberturas também ajardinadas, espaços internos iluminados e ventilados naturalmente pela existência de grandes “vãos” (facilitando o conforto ambiental e diminuindo o uso de energia artificial, de ventiladores e condicionadores de ar, por exemplo), e envoltos por praças e parques. Acontece que, por infinitas razões (que vão desde as culturais, sócio-econômicas, até as relacionadas à especulação imobiliária) o emprego destes ensinamentos não é visto com freqüência na arquitetura de nossas cidades. A falta de “respiro”, tanto no que diz respeito à falta de espaços livres destinados a parques e praças, quanto à falta de conforto ambiental nas edificações virou acontecimento corriqueiro. O diferencial do arquiteto, assim como um de seus principais desafios, ainda hoje, é fazer valer cada vez mais o emprego de tais ensinamentos, que se referem às questões básicas de implantação de um edifício em relação a seu terreno, sua rua, sua cidade. Em primeira instância, sem resolver estas questões básicas de arquitetura, não será suficiente apenas empregarmos revestimentos feitos com materiais reciclados ou telhas ecológicas, por exemplo.
CDA – Quais os principais desafios enfrentados pela arquitetura brasileira nos dias de hoje?

MB – Percebo que em muitas áreas profissionais há uma lacuna entre teoria e prática. Refiro-me, principalmente, a estudos e teses acadêmicas que há anos e anos propõem ótimas soluções a um mesmo problema. Quer dizer, se até hoje existe o problema é porque ninguém olhou pra estas respostas.

No campo da arquitetura e urbanismo, salvo algumas exceções, não é diferente. Um exemplo disso são as inúmeras propostas de revitalização para áreas da várzea do rio Tietê. Estas soluções vão sendo esquecidas até um momento em que não se tem mais como adequá-las à realidade, visto o tamanho que o problema vai ganhando a cada dia. Portanto, um importante desafio da arquitetura e do urbanismo, no Brasil, é vencer esta distância e ter a oportunidade de aplicar, em nossas cidades, propostas mais coerentes.
CDA – Em sua opinião de profissional, como será a arquitetura no futuro?

MB – Vejo a arquitetura e o urbanismo cada vez mais populares, democratizados.  Acredito que o caos, que muitas vezes toma conta das grandes cidades, leve cada vez mais os cidadãos a buscarem novos horizontes. Essa descentralização de interesse nos grandes centros obrigará novas cidades a se estruturarem, evoluírem, e dará tempo e espaço, literalmente, para que as metrópoles possam ser redesenhadas.

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